TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA – Lima Barreto

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA - Lima Barreto

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Certamente que você, brasileiro(a) como eu, já deve ter ouvido falar de Lima Barreto e seus principais livros. Livros estes que foram contribuições muito importantes para uma época pré-modernista aqui do Brasil e que ainda hoje são citados como grandes obras nacionais.

Certamente que eu sabia tudo isso pois estudei o pré-modernismo na época da escola, e mais além na faculdade, pois fiz Letras. Mas até hoje eu não tinha parado para realmente ler alguma destas obras tão famosas de Lima. Então eis minha supresa quando após pegar Triste Fim de Policarpo Quaresma, eu ter me deparado com uma história que conversa extremamente com o nosso momento (e eu diria que sempre conversou desde que foi escrita) e que pra mim carrega um quê da nossa identidade nela, seja para o bem ou para o mal.

Sério gente, a história dá até agonia de tanto que conversa com a gente. Eu ouso dizer que todo mundo aí de alguma forma já conheceu um Policarpo Quaresma na vida, e de certa forma já presenciou o triste fim de suas convicções (extrapolando a situação claro – vcs verão, caso leiam que Quaresma tem atitudes patrióticas bem extremas). Eu já vi muita gente honesta ao longo da minha vida duvidar se realmente compensava ser honesta. E acho que isso por si só já fala muito da nossa realidade se fizermos um belo paralelo com o que acontece nessa história.

O livro basicamente vai trazer pra gente a história do Policarpo, um senhor que tem um super duper orgulho de ser brasileiro e que sonha em ter símbolos autênticos que demonstrem toda a maravilha que estas terras possuem.

A vizinhança e as pessoas que convivem com ele começam a o achar louco por determinadas atitudes, tanto que acabam mandando ele para um sanatório por um certo tempo após o ato “mais extremo de loucura” cometido por ele – Policarpo manda um carta escrita em tupi guarani pedindo que o governo considere mudar nosso idioma oficial para tal língua que segundo ele é 100% brasileira.

Além da vida Policarpo vamos acompanhando a vida de alguns vizinhos e pessoas que convivem com ele, e com isso vendo uma realidade que lá no começo dos 1900 já possuía a mesma dinâmica que encontramos hoje em dia, especialmente falando de governo e instituição militar.

Lima também dá muito destaque a situação da mulher na época, questionando se só o casamento traria a realização e felicidade que ela de fato necessitava.  Há uma personagem que marca esse questionamento na história.

Policarpo após sua temporada no sanatório acaba indo morar por um tempo no campo,mas acaba voltando para a cidade para se voluntariar para um dos pelotões militares que estão tomando conta de determinados pontos da cidade.

Aqui dando um certo spoiler do final (se não quiser ler pule para o próximo parágrafo) Lá após muito tempo vendo situações que não funcionam, Policarpo decide denunciar os absurdos vividos diretamente ao presidente e isso irá levá-lo ao seu triste fim. Não é interesse de ninguém consertar a situação, principalmente o presidente, mas Policarpo entende isso tarde demais e acaba condenado a morte atrás das grades.

Policarpo vai entender que o Brasil não é , e provavelmente nunca será a grande pátria que ele tanto sonhava da pior maneira possível, dando assim um dos melhores títulos com spoiler da história literária brasileira ever.

Por fim devo destacar aqui também a minha total apreciação por Lima ter usado ao longo do livro expressões estrangeiras que aos poucos foram sendo incorporadas ao português brasileiro (e você percebe que foi de propósito), muitas delas usadas pelas pessoas com intuito de lhes dar certo destaque. Essa mistura de línguas, e de tudo para mim é a base da nossa cultura. Uma cultura que por vezes é difícil de se definir e que ao meu ver tem como maior característica, tanto nas artes, cozinha, música, etc quanto na própria língua esse mix que nos impede de ser apenas uma coisa. Nós brasileiros somos mistura, mistura essa presente em tudo que nos cerca.  E cara, o Lima conseguiu passar isso de uma forma tão bacana no texto. Geniozinho ele.

Pessoal, leiam se puderem e se tiverem curiosidade. Essa história é aquele tipo de preciosidade que precisa continuar sendo contemplada ante ao seu imenso valor para nossa cultura. Amei demais e recomendo demais a leitura.

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