07/10/06…aproveitando o momento de reflexão…

"Logo, logo teremos que escolher entre o que é fácil e o que é certo, Harry." – Alvo Dumbledore
 
Aproveitando o momento super sola aqui em casa,somente na companhia de meus exercícios e lições dos alunos pra corrigir, pensei que precisava colocar aqui algo sobre minha opinião política…sim…afinal ontem mesmo fui questionada sobre isto e bem, um dia antes do meu aniversário vamos ao segundo turno escolher mais um presidente. Para isto não achei texto nem palavras melhores do que a desse artigo que a companheira Marie mandou por email…acho que resume bem o meu pensamento. Aí vai ele:
 
PORQUE VOTO EM LULA
Democracia é maior que qualquer um de nós
RENATO JANINE RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação. Voto em Lula porque, a
meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o país com uma agenda
ditada pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior,à
monetária e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o
Orçamento, sem dinheiro nem para pagar passagens de ministros, com o Dólar a
R$ 4 e um risco-Brasil enorme. Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz
de acalmar a economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim,
de cumprir uma agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos
movimentos populares, e isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio
público.

Mais, ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, Uma
agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif ("Valor
Econômico", 24/8), o maior rigor em programas como o Bolsa-Família e os do
Ministério das Cidades "desintermediou o voto da população pobre, que antes
passava pelo chefe local". Se isso é certo, não há paternalismo na atual
política de promoção social. Não adianta ficar inventando que Lula se
proclamou "pai dos pobres". Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca
informam quando o presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas
crenças para se referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo
agora do que antes.

É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do
BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava
isso de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem
e se vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas
mãos de pobres não presta.

Discordo disso. Quero uma sociedade democrática. Isso significa, em primeiro
lugar, o fim da miséria, a redução da desigualdade social.

No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de
esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de
melhorar as condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao
contrário do que diziam seus detratores.

O país não pegou fogo. O saldo do governo é positivo: a questão social está
sendo bem orientada.

Agora vamos à questão ética.

No governo atual o procurador-geral não engaveta processos, a Polícia
Federal age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu 60 CPIs de
funcionar na Assembléia paulista, deixou uma política de segurança
prepotente e ineficaz (porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política
de educação que não é das melhores. *Eleição é comparação*.*

Não vejo no governo Alckmin superioridade ética sobre o governo Lula*.

Contudo,* há satisfações que o PT deve à sociedade*. Os escândalos mostram
que ele é um partido mais "normal" do que imaginava ser. Humildade não faz
mal. O PT tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina
interna e punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que
os outros. *Aliás, seria bom o país todo fazer um exame de consciência.*Com
o financiamento privado de eleições, a porta se escancara para a negociata.
Deveríamos priorizar em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária,
condições mais equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o
voto distrital.

*Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre, teremos de conviver,quem
votou em Lula ou nos outros candidatos*.

Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o
segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa
respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é
desonesto deformar o que o outro disse.

*Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu,é uma
enorme caricatura*. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de
adversários, não de inimigos.

Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da
esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto,
convergências. A* sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os
partidos.* A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.

Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os
excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o governo
neste rumo mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e
não apenas de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos
problemas. Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser
maior do que ele e do que qualquer um de nós.

RENATO JANINE RIBEIRO , professor de ética e filosofia política na USP, é
diretor de avaliação da Capes e autor de, entre outras obras,"A Sociedade
Contra o Social – O Alto Custo da Vida Pública no Brasil"(Companhia das
Letras)

Compartilhe

Posts recomendados

Deixe uma resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>